Alguns exemplos da Formação em Portugal

Toda a situação ocorrida com CIDEC remete-nos para uma análise mais vasta do sistema de financiamento da formação em Portugal. Provavelmente os formadores do CIDEC não deram exclusivamente formação nesta instituição. Quem é formador sabe bem dos esquemas que muitas empresas e instituições utilizam para se financiarem. Desde pedirem recibos mais elevados do que aquilo que na realidade pagam, exigirem recibos antecipados, ministrarem formação sem condições, desviarem as verbas destinadas aos formandos e formadores para despesas correntes de tesouraria, defraudar as expectativas, inflacionarem despesas, darem aulas fictícias para receber o financiamento etc.

Por azar meu, tenho duas experiências formativas (EFA) onde ocorreram alguns destes esquemas. A primeira foi em 2005 (na empresa PSICONSULTATA em Barcelos gerida até à data pelo Dr. João Martins) e a segunda no CIDEC em 2007. Na primeira, a situação ocorrida foi a seguinte. Concluído o curso nas duas turmas onde ministrei a formação (uma em Esposende e outra em Barcelos), os formandos não obtiveram qualquer certificado de equivalência ao 9º ano de escolaridade. Ambos os cursos duraram sensivelmente um ano cada. As condições de formação eram deploráveis, uma vez que os formadores não podiam executar algumas das actividades propostas por falta de verbas. Deu-se o caso de, em certas actividades serem os formandos e formadores a suportarem os custos. Recordo-me que no primeiro curso só tivemos internet nas duas últimas aulas (eu dou formação TIC). A formação profissionalizante do segundo curso praticamente não existiu. Mas o curioso é que para todos os efeitos, os sumários foram assinados… quem dava parte da formação profissionalizante era a mulher do gerente da empresa… Várias foram as denúncias, mas nada aconteceu… A juntar a isto tudo, os formadores e formandos não receberam quase nada do que lhes era devido… Milhares de euros de dívida… Não sou jurista, mas qualquer leigo facilmente pergunta: Isto não é burla? Ninguém investiga? O mais estranho é que apesar destas fraudes a empresa ainda viu mais uns cursos aprovados.

No CIDEC a situação foi diferente. Num rasgo genial de gestão eficiente o Prof. Ferreira de Sousa despede toda a gente e suspende os cursos que se encontravam em execução. É de facto um hino à gestão eficiente, um exemplo para as empresas portuguesas seguirem rumo à competitividade global. Provavelmente o segundo passo será a deslocalização do CIDEC para Pequim, criando posteriormente o CIDEC Xian, o CIDEC Chongqing, o CIDEC Changchun, o CIDEC Chengdu e finalmente o CIDEC Guilin . O Senhor Professor vai com certeza entrar nos anais da gestão moderna.

Com este rasgo de gestão e através do bom senso dos formadores, formandos e ex-funcionários o professor lá conseguiu levar o curso EFA de Braga até ao fim. Mas as turbulências foram muitas. Assim de repente lembro-me quando ia iniciar uma aula de TIC e batem à porta da sala. Eram dois individuos a perguntar onde era o CIDEC. Eu lá respondi que era onde eles tinham batido. Azar meu e dos formandos, vinham cortar a luz por falta de pagamento. O leitor facilmente se apercebe o quanto é eficiente para os formandos terem uma aula de TIC sem luz eléctrica. Foi de facto uma verdadeira aula teórica. Além de demonstrar uma capacidade inata para a gestão, o Senhor Professor também demonstrou num golpe de génio (não pagando a luz) capacidades pedagógicas brilhantes.

Com várias situações caricatas o curso terminou. O CIDEC não pagou a ninguém, não tem como pagar, os formandos não têm a certificação do 9º ano, ninguém consegue contactar o Senhor professor, alguns cheques vieram devolvidos (por acaso os meus não). E agora? O que vão fazer as instituições competentes? Se alguém souber as respostas, digam-me por favor. Ficarei agradecido para o resto da vida.

PN